Crédito desta foto: eu mesma inspiradíssima...

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20 de dez. de 2009

Animação da Pixar emociona*





Apesar do arrasador desempenho nas bilheterias norte-americanas, uma das obras-primas da Pixar, WALL-E, foi um retumbante fracasso no Brasil, ficando bem atrás das animações da concorrente Dreamworks. O Oscar de Animação concedido em 2009 clama por revisão. E vale a pena, mesmo em DVD.

WALL-E é provavelmente o último vestígio de vida inteligente numa Terra devastada. Mas WALL-E não é uma criatura orgânica. É um pequeno robô que passa seus séculos cumprindo religiosamente a função à qual foi destinado: empilhar fardos de lixo num infindável aterro no qual se transformou o planeta e cuja diversão é coletar objetos curiosos e cuidar da sua baratinha de estimação.

Até que um dia, uma nave pousa e deixa EVE, um robô-sonda altamente avançado, objetivo e com impressionante capacidade destrutiva (não se tem dúvida que é umA robô...). A partir daí começa uma inesperada aventura romântica de fundo ecológico. EVE, descobrimos, é a pomba de Noé, que até hoje é retratada com um ramo no bico como símbolo da esperança e paz.

São praticamente dois filmes. A primeira metade - que mostra a solidão de WALL-E e seus primeiros contatos com EVE - é totalmente muda e de um lirismo muito comovente. Quem mais hoje em dia é capaz de arrancar lágrimas de adultos com uma animação muda, senão a parceria Disney/Pixar? Comprova a máxima do cinema, que um bom roteiro não deve se apoiar no diálogo para se compreender a situação.




A segunda metade perde na poesia, mas ganha muito em ação e diversão. É uma sátira muito inventiva à letargia à qual o tecno-consumismo submete o norte-americano, mas que peca pela falta de objetividade. O roteiro tenta aqui, desajeitadamente, colocar seres humanos como protagonistas, quando a essência da história é o conflito entre robôs com "alma" e "coração" contra um sistema automatizado, desumano e autoritário.

Enfim, WALL-E é um dos melhores filmes de animação já feitos, combinando o melhor da poesia Disney com a técnica mais apurada em animação da Pixar. Obrigatório. Não é um filme de entressafra como me pareceu no lançamento (salvo pelo fato de não contar com a supervisão de história de Brad Bird, que trabalhou nos anteriores Os Incríveis e Ratatouille, e isso explica o roteiro "quase lá").

Mas a dica é assistir a primeira metade, que vai até a cena em que a nave parte levando EVE, e depois dar um "pause", reabastecer a pipoca, enxugar as lágrimas e se preparar para a segunda parte, que tem um ritmo completamente diferente. Casais apaixonados: é garantia de um bom fim de noite. Se a menina não se render a este, é porque nem coração de lata ela tem.



*Nelson Doy Jr. é publicitário e mora no Rio. Essa crítica é da série REBOBINANDO - filmes que ele não viu na época do lançamento e depois resolveu dar uma olhada em DVD. E isso é bem Lado B. "E me surpreendi... Tem muita gente que procura dicas de DVD. Principalmente este acho que vale, porque não chegou a explodir nas bilheterias aqui no Brasil, mas depois ganhou o Oscar!"



Foto: www.imdb.com

15 de dez. de 2009

Estreia do Cinematografando com Woody Allen*

Esse é o dèbut da nova seção do Lado B. Quando meus brilhantes amigos críticos de cinema (oficiais ou não) escreverem algo sobre uma obra da Sétima Arte, vão escrever para o Cinematografando. Bem, a palavra não é exatamente um neologismo porque, em tese, existe. Mas ousadamente criei um novo sentido para ela: algo como usar a linguagem escrita para abordar cinema. A primeira crítica é de um amigo para lá de querido (do qual eu sou fã de carterinha), Nelson Doy Jr. Ah, e podem cinematografar o texto dele com seus comentários, ok?




Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works), de Woody Allen

Boris, um velho judeu separado, maníaco e rabugento, candidato frustrado ao Nobel de Física, tem sua vida metódica abalada quando aceita abrigar Evan Rachel Wood - como a dumb blond mais lindinha deste ano nos cinemas. Fugida de uma casa de protestantes radicais numa cidadezinha da tradicionalista Mississipi, Melodie (Evan Rachel) confessa seu amor pelo coroa, levando a uma série de acasos e reações que culminam no próprio... final do filme.

Allen mantém seu interesse sobre a transitoriedade das relações dentro desse enorme mar de acasos, sempre encafifado com a imprevisibilidade das paixões frente a qualquer tentativa lógica. Note-se que tem uma diferença monumental entre a humildade resignada do título original Whatever Works (qualquer coisa que funcione) e a otimista tradução Tudo Pode Dar Certo. Depois de muitos anos, aquela paixão inicial se resume a qualquer coisa que possa dar certo (para manter o relacionamento), ensina Boris.

Mais ou menos, o filme é o retorno anual de Allen ao seu público (e estilo de humor) originador, o judeu novaiorquino. Veio da Europa e fez um resumo do que viu na volta pra comunidade, sem faltar uma impagável malhação ao protestantismo. Muito de bem com a vida, sem compromissos. O aspecto de esquete caseiro é reforçado pelo estilo sitcômico do protagonista Larry David, que faz Curb Your Enthusiasm na TV, que fica flagrantemente deslocado no cinema.



*Nelson Doy Jr. é publicitário, mora no Rio, mas volta e meia curte o Lado B de Salvador, quase sempre ciceroneado por essa blogueira que vos fala.

Foto: www.imdb.com