Crédito desta foto: eu mesma inspiradíssima...

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11 de jan. de 2010

Sambas de tirar o chapéu na pirâmide




Já sou fã confessa da cantora Juliana Ribeiro pelo seu preciosismo, empenho e, claro, pelo inquestionável talento. Sem contar a rica contribuição de seu trabalho aos cenários de entretenimento, cultural e acadêmico - graduada em música, agora realiza mestrado no qual pesquisa as raízes do samba. Um luxo!


Em sua mensagem de fim de ano aos felizes integrantes de seu mailing, do qual eu faço parte, ela avisou:

"...faço questão de sua presença em janeiro no lançamento do meu projeto "Cantando com os Compositores', no qual prestarei homenagem a estes grandes mestres da terra. Serão duas participações por show, deixando as noites de sexta ainda mais brilhantes.

Teremos Sr. Mateus Aleluia, Walmir Lima, Edil Pacheco, Reginaldo Souza, Gal do Beco, Walter Queiroz , Roque Ferreira e J. Velloso, nessa temporada de verão que ocorrerá todas as sextas, no Tom do Sabor, no Rio Vermelho."

Recado dado? Então agende-se para as sexta-feiras de janeiro, ok? Aproveite para saborear a cozinha de alto nível da casa. O Tom do Sabor fica na bela Pirâmide do Rio Vermelho, fácil, fácil de encontrar. No sentido Amaralina-Ondina, logo após a churrascaria Fogo de Chão, você já pode começar a parar o carro (fica à sua direita).



Foto: www.sxc.hu

6 de jan. de 2010

Vai, Chaplin, ser gauche no céu*




A noite boêmia da cidade está de luto. Não haverá mais a figura de um Carlito se equilibrando entre a alegria e a melancolia, sobre as rodas de uma antiga bicicleta. Nunca mais será visto pelas noites da cidade, aquele personagem de si mesmo, cuspindo fogo como um dragão mambembe que tentava espantar a solidão e atrair um pouco de atenção, em troca de uns trocados. O artista de rua, melhor seria dizer de bares, que se vestia de Chaplin está morto desde o dia quatro. Sua arte não foi capaz de conter os dez tiros de revólver que lhe deram, após mais uma noite de jornada.

Diariamente aquele Carlito soteropolitano exibia sua performance de clown noturno e solitário. Um equilíbrio circense instável, feito de piruetas esperadas com patins ou skate e o gran finale no papel do homem que cospe fogo.

Terminado o espetáculo, ele derramava sobre os frequentadores o seu olhar indecifrável que escondia múltiplos sentimentos. Com o seu chapéu-coco pedia o reconhecimento em forma de algum dinheiro para subsistência artística.

Tudo nele parecia incompleto. O malabarismo, a maquiagem, o figurino, tudo. E residia aí sua graça, a nos lembrar do Carlito real, criado por Charles Chaplin, que ousou inserir um antagonista como principal personagem de um cinema em busca de afirmação como arte.

Assim também era o nosso Chaplin, com seu grito característico, avisando aos boêmios que dessem uma pausa na cerveja, ou nas conversas etílicas que resolvem todos os problemas do mundo, para dispensar um fragmento de tempo e vê-lo desafiar Isaac Newton e a Lei da Gravidade, no picadeiro de asfalto urbano.

Ao morrer, as páginas policiais desvendaram sua identidade chamando-o de Gildenor Ferreira de Oliveira, 54 anos. Disseram também que o motivo da chacina fora uma vingança de traficantes porque aquele Chaplin ousou ensinar sua arte para tirar meninos do território das drogas. No limiar de uma nova década do século XXI, a combinação de arte e educação ainda provoca instabilidade e medo em quem faz da bala e da violência sua própria lei.

Os tiros provocaram uma morte múltipla. De uma só vez foram extintos Chaplin, Carlito e Gildenor. A arte de rua, os meninos do seu projeto e as noites de Salvador estarão mais tristes a partir de agora.


* Texto do jornalista Alberto Freire, que, como eu, vai lembrar sempre do Chaplin soteropolitano como o mais verdadeiro e puro espírito Lado B.

Foto: arquivo Alberto Freire

4 de jan. de 2010

Aconchego da Zuzu, o Lado B com estilo Classe A*




O bairro do Garcia tem o seu dia de Lado A uma vez por ano, na segunda-feira de carnaval, quando a folia trieletrizada dá lugar às bandas de sopros e à irreverência dos foliões da Mudança do Garcia. Mas naquele território emblemático, mais famoso pelas escolas tradicionais que pelos bares, tem um bar tipicamente Lado B que resiste ao tempo e ao modismo de outros bares da cidade. Falo do Aconchego da Zuzu.

O bar e restaurante Aconchego da Zuzu está instalado numa típica residência familiar, com uma arquitetura que remete às casas populares das primeiras décadas do século XX. Quem passa pela rua não imagina o que pode encontrar à medida que se adentra o antigo casarão.

A partir de uma área descoberta, chega-se ao típico quintal urbano, coberto pela sombra de mangueiras frondosas. Esse quintal é palco para prazeres diversos que vão da boa mesa à boa música. Comece pela entrada de abará e depois, com muita calma, prove os petiscos de agulhinha frita ou pititinga, caldos diversos até chegar ao prato principal, a moqueca de peixe ou carne do sol com aipim frito.

Todo esse repertório gastronômico ganha um sabor especial com o tempero musical que é referência da casa. Do chorinho à bossa nova, passando pelos sambas antigos e contemporâneos, o palco tem lugar para vários estilos musicais. Prefira todos.

O nome do bar é uma homenagem à matriarca da família de proprietários, a centenária Dona Zuzu. Vê-la circulando animada pelo local, nos faz entender o real significado da palavra longevidade. O serviço do Aconchego da Zuzu é feito por uma extensa rede de filhos, sobrinhos e netos da matriarca, que implantaram um jeito especial de atender os clientes. Com estilo, o estabelecimento superou a categoria de um simples barzinho e já pode ser considerado uma espécie de local Classe A no universo Lado B dessa cidade de São Salvador da Bahia.

Oficialmente o Aconchego da Zuzu está localizado na Rua Quintino Bocaiúva, n° 18, Fazenda Garcia. Mas na informalidade da geografia Lado B da cidade, fica no topo da ladeira do Posto São Jorge, no final-de-linha do Garcia. Funciona de terça-feira a domingo para almoço a partir do meio dia; e à noite, com boa música ao vivo, de quinta-feira a domingo, das 20h30 às 24h. Tel: (71) 3331-5074.



* Texto do jornalista Alberto Freire, uma das minhas grandes referências para indicações Lado B. Como eu, Alberto quer levar a mãe dele para assistir um bom chorinho em um domingo no Aconchego da Zuzu.

Foto: www.sxc.hu