Crédito desta foto: eu mesma inspiradíssima...

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28 de mar. de 2010

Cinematografando: Ego Romeo & Psiche Juliet (Ilha do Medo)*




Acorrentado a seus próprios traumas, o agente federal Teddy Daniels é designado a investigar o desaparecimento de uma interna do manicômio penitenciário na ilha de Shutter, litoral de Boston. No decorrer da trama, percorremos com ele os assustadores meandros da loucura e desvendamos uma bela e trágica história de amor.


Uma vasta biblioteca de imagens arquetípicas indica que o tema do filme não é policialesco e sim psiquiátrico. A começar pela ilha, um rochedo isolado da sociedade por um mar revolto, acometida de violentas intempéries. Simboliza a mente do louco, enrijecida e isolada por um mar de pensamentos confusos e turbulentos, seus surtos psicóticos e a própria psicanálise, único e frágil acesso ao interior dessa mente, exatamente como a periclitante balsa que leva e traz seus visitantes.



Assim também, as diversas alas do manicômio e os “lugares” da ilha - como a mata e o penhasco com suas cavernas - são organizados como a mente freudiana, com superego, consciente, inconsciente e subconsciente. Ilha do Medo é, na verdade, uma jornada de Ego (o protagonista Daniels) por entre a estrutura da mente freudiana, vivendo literalmente o confronto de Eros (amor) e Tanatos (morte), força motriz de todas as emoções.

Apesar da idade, Leonardo Di Caprio parece meio que uma criança interpretando um personagem adulto e o filme é uma colagem de referências cinematográficas, desde a trama até o visual, decepcionantemente vulgares e lugar-comum para o habitual realismo crú de Scorcese. De filmes de terror e o expressionismo alemão ao cine noir, sempre com cenas pré-fabricadas como querendo te amedrontar. Uma série de "defeitos" que tornam o filme mecânico e parecem banalizar a produção. Mas tudo isso se explica, e faz muito sentido, à medida que compreendemos como se construiu aquele enredo.



Muito tristemente, o auge do filme é estuprado por um longo surto de explicacionite aguda, o mal típico de toda produção norte-americana, com mais de uma dezena de planos nitidamente inseridos após a edição do filme. São aquelas em que os coadjuvantes são convocados a posteriori para gravar falas que tentam esclarecer o que está acontecendo, tudo por exigência dos produtores e muito a contragosto do diretor e roteirista, que desejam preservar a integridade poética da obra. O caráter didático quebra, miseravelmente, o sentido catártico da cena.

Assim, por falta de sutileza psicológica, Ilha do Medo perde a chance de se colocar entre as grandes histórias do amor trágico, que tem na sua galeria clássicos como Romeu e Julieta, Lolita e o pós moderno Asas do Desejo. Poderia ser o Romeu e Julieta dos tempos modernos, que se passa no purgatório das almas perdidas, sob a ótica da violência, o tema primal de toda a obra cinematográfica de Scorcese. Que ótimo seria talvez ver este filme realizado por Stanley Kubrick, que dedicou sua vida a filmar a loucura em todos os seus tempos e sentidos.


Mas a cena final, com a decisão de Daniels, e que culmina no plano do farol apagado ao pôr-do-sol, com toda sua carga simbólica, é ótima e recupera sozinha toda desgraça anterior. Assista, traga o quebra-cabeças para casa e monte você mesmo a versão "director’s cut". Mas cuidado: o filme é tenso demais e te larga na rua mais pesado que um rochedo isolado da sociedade por um mar revolto. Você sai do cinema desejando a companhia de outras pessoas, mesmo não conseguindo articular conversa alguma.




* por Nelson Doy Jr., que é publicitário, mora no Rio, mas volta e meia curte o Lado B de Salvador, quase sempre ciceroneado por essa blogueira que vos fala. Além de ser brilhante nos seus textos (e me presentear com obras suas exclusivas), sempre salva-me nas horas mais difíceis de blogueira.

fotos: www.imdb.com

21 de mar. de 2010

Comidas naturebas


As pessoas que convivem comigo já sabem o que penso: comer bem é mais que um prazer, é uma filosofia de vida. Alimentos e temperos devem ter o mínimo de processamento industrial (confesso que acho maioria dos temperos prontos com gosto de papelão! rsrs...). Mas se vocês acham que não valorizo o sabor porque gosto de comida natural, então está na hora de rever seus conceitos (um plágio de vez em quando não faz mal... rsrs...).

Minhas recomendações vão em ordem de preferência:

1 - Saúde na Panela - As nuances de sabor em cada prato são enormes, mesmo o restaurante sendo radical (as deliciosas sobremesas são feitas com iogurte ao invés de creme de leite. As receitas não levam ovos na receita, têm pouco sal e quase nenhuma gordura - a maioria deles, nenhuma). Mas vou confessar meu fraco: a ceia deles é fantástica. De vez em quando vou tomar uma sopinha (e aproveito para levar aqueles irresistíveis pães ou bolos pra casa) Fica no Itaigara, próximo ao fim de linha da Pituba (3353-8088/3353-6788). E os preços são muito bons.

2 - Vida - A soparia (e restaurante natural) localizada em Ondina faz a gente percorrer quatro a cinco bairros para ter uma ceia dos deuses. É sopa que não acaba mais (de vez em quando faço umas misturas bem loucas, mas muito saborosas). Funciona como restaurante durante do dia, mas eu nunca fui nesse horário. Tem uma filial no Shopping Estrada do Coco.




3 - Manjericão - O que mais me encanta no Manjericão é poder comer cercada de verde. Os pratos desse restaurante, muitas vezes, são bem comuns, mas não quer dizer que menos saborosos. Mas algumas vezes me surpreendendo com misturas criativas. Localizado no Rio Vermelho, agora abre também aos domingos (3335-5641).

4 - Grão de Arroz - Uma viagem é almoçar debaixo de uma das árvores da filial dos Barris e depois assistir a um filme na sala Walter da Silveira. É claro que, pra mim, só dá pra fazer isso aos sábados. Mas eu ganho a semana inteira com essas poucas horas de prazer gastro-cult! É uma frustração para mim, no entanto, que a filial da Pituba (pertíssimo da minha humilde residência) somente sirva alguns lanches, pizza e sopas com misturas pra lá de criativas e totalmente pensadas para que seu organismo só diga obrigado (alô quem tem problemas intestinais: vale levar algumas pra viagem e tomar em casa). A variedade de pães é um dos fortes dessa filial e o mercadinho tem bastante variedade de produtos naturais, inclusive feirinha orgânica. (3248-9535 - Pituba e 3328-2157 - Barris)

5 - Brisa - Os pratos desse restaurante quase não sofrem processamento. São bem próximos ao sabor natural dos alimentos quando os tiramos da terra. Os pães e lanches integrais são maravilhosos. O lugar é bem tranquilo (minha mãe adorou comer lá!) e dá até pra ouvir passarinhos cantando aos domingos. Fica nas imediações na av. Paulo VI, na Pituba.

6 - Mundo Verde - A loja que fica no Max Center (Itaigara) tem um pequeno restaurante no andar superior. É uma paz poder almoçar sem barulho em uma localidade tão agitada. Na verdade, não é bem almoço. Há sopas, beirutes com tabule e lanches integrais bem nutritivos. A salada de fruta é servida com iogurte e mel: simplesmente divina!



7 - Espaço Natural - Para mim, essa é a opção para o dia-a-dia. Meio caro, o restaurante não varia muito o cardápio, mas, invariavelmente, os pratos são bem leves. As sobremesas são deliciosas (prefiro as light em detrimento das diet). Os pães (os de banana e germen de trigo são absolutamente fantásticos) e os congelados são um ponto alto da loja. Dentro do shopping Itaigara (3358-7877).

8 - Raízes - Recomendo a requintadíssimo filial do Salvador Shopping (aliás, está no antigo local onde havia uma filial do Brisa). Os molhos são incríveis e as saladas... hummm... são de dar água na boca. Tudo feito com ingredientes, diz o paladar, da mais alta qualidade. O único problema é ter que sentar naquela barulhenta praça de alimentação. Sobre a qualidade dos pratos, não posso dizer o mesmo do Raízes do Iguatemi.






fotos: www.sxc.hu

14 de mar. de 2010

Muiiiito lixo no Porto da Barra


Neste fim de semana, a cidade foi abençoada com os últimos shows do Espicha Verão, na praia do Porto Barra. Organizado e repleto de atrações de excelente qualidade, o projeto encantou também pelo cenário. E é sobre cenário e não sobre conteúdo que esse post quer falar: a praia. Como sempre, queremos aqui lançar um olhar estilo "Lado B" sobre esse evento.

Reduto da resistência dentro da área mais urbana de Salvador em termos de limpeza e boas condições de banho, o Porto da Barra ainda sofre com enorme falta de consciência das pessoas. Situação que chega a causar atos meio irônicos, mas sérios em essência, como o grafitismo da foto com o qual me deparei ao descer as escadarias para chegar a areia. Nas entrelinhas, o que ele quis dizer é: "sei que vocês vão sujar mesmo, mas, por favor, esforce-se para não sujar tanto". Pelo que vi, após esses espetáculos que nos encheram de orgulho, deu pra perceber o trabalho enorme a se fazer, pois, além dos visitantes da hora não terem o menor cuidado com seu lixo, não havia quase nenhum lixeira disponível para os que estavam preocupados em jogar lixo no lixo.


Sem uma assinatura (pelo menos não estava visível pra mim), não tenho como fazer uma homenagem à altura desse artista urbano de tanta sensibilidade. Mas fica aqui o apelo: quem passar pela área confere, fala sobre o assunto, chama a atenção das pessoas, enfim, faz valer a intenção do grafiteiro.

Tive a oportunidade de, nas minhas férias mais recentes, me deliciar com a aprazível praia do Porto da Barra numa quinta-feira. Apenas turistas e moradores aproveitam o local durante a semana. E não só a tranquilidade de poder ler um bom livro de frente pro mar me encantou. A sensibilidade das pessoas em cuidarem de seus lixos em parceria com os vendedores e prestadores de serviço é linda de se ver.

"Se todos fossem iguais a você..." não aconteceria o desastre recentemente divulgado via e-mail por alguns cidadãos heróicos, que deveriam ser agraciados com algum tipo de homenagem pelo seu belo exemplo. Um grupo de amigos decidiu fazer uma limpeza das águas do Porto após o carnaval. A quantidade de lixo encontrada foi vergonhosa e, o pior, nenhuma organização formadora de opinião ou responsável por ações público-governamentais deu a menor importância.



O grupo - de acordo com a mensagem - chegou a oferecer como matéria para vários veículos de comunicação, mas, pelo visto, atos raros de cidadania e comprometimento com a natureza e, em última instância, com a vida saíram da lista de critérios de noticiabilidade da nossa mídia. Nessa horas, tenho vergonha de ser jornalista!

Felizmente, existem as redes sociais (se não por definição como Orkut, Facebook etc., mas por metodologia, como o ato de disseminar uma informação apenas transmitindo e-mails para seus contatos). E parece que isso tem nos salvado de algumas lacunas que os nosso veículos de comunicação têm deixado pelo caminho (muitas vezes com razão, já que alguns temas não cabem ser abordados nos grandes veículos; outras por omissão ou falta de compromisso com o coletivo como no caso em questão).

Decidir postar as imagens que chegaram a mim como forma de auxiliar na missão desse heróis anônimos (esses, sim, engrandecem e fortalecem a palavra que já virou sinônimo de mediocridade, mau caratismo e falta de valores na voz do minha ex-referência de bom jornalismo, Pedro Bial. Lamentável!).

Confira a história e as imagens completas no blog da ong Global Garbage.

O crédito das fotos: a primeira é minha e a do fundo do mar é do blog acima citado.

6 de mar. de 2010

Férias em Salvador



Tenho tantos amigos e conhecidos que decidiram vir a Salvador agora (ou entrar em férias e ficar na cidade), nesse final de verão, que resolvi fazer uma postagem somente sobre isso. Aproveitando que as águas de março ainda não chegaram, vamos curtir o Lado B de Salvador.

Perguntaram-me: quanto tempo ficar em Salvador?
Depende da escolha de cada um. Há coisas interessantes pra fazer em qualquer dia da semana. Mas vale mais a pena estar aqui no fim de semana: quinta a domingo. Como a maioria das pessoas chega e retorna por Salvador, sugiro aproveitar a cidade nos fins de semana que chegar e que for embora. Durante a semana, pode curtir os outros roteiro fora da cidade. Veja as principais indicações.


Praia do Porto da Barra é show durante a semana - tirando os vendedores e prestadores de serviço insistentes... Mas basta se concentrar na sua leitura ou na contemplação do mar. Ah, aluga cadeiras e sombreiro com o Carlinhos: muito atencioso e sorridente. Não apareça, em hipótese alguma, no fim de semana por lá, a menos que seja pra o projeto Espicha Verão, que acontece ainda nos dias 6 e 13 de março (ninguém menos que Buena Vista Social Club toca nessa data - veja postagem do dia 27/2). Praias de fim de semana podem ser: Buracão, Rio Vermelho (essa rola no meio da semana também. Veja postagem do dia 27/8/2009), Pituaçu (barraca de Luciano), Flamengo (Barraca do Lôro), Villas (Barraca da Gávea), além das opções do Litoral Norte, como Praia do Forte (projeto Tamar e castelo Garcia D'Ávila são imperdíveis).


Rio Vermelho, bairro boêmio de Salvador (guardadas as proporções, é como a Lapa do Rio de Janeiro). Circule à vontade, de preferência quinta a domingo, e ouça de tudo: reggae, samba, rock, música caribenha , MPB... O acarajé, recomendo o da Cira.


Está aberta a temporada de forró. Os melhores arrasta-pés estão na AABB (Ass. Atlética Banco do Brasil ), em Patamares, e no restaurante Sertão Bom, na Pituba. Têm boas atrações e um público legal. Diferente de quase tudo em Salvador, no Sertão Bom há hora pra começar e terminar. O esquema é mais tranquilo, pois tem família, confraternização de grupos de amigos, mas também pessoas interessadas em dançar meeeeesssmo. Essa é a recomendação também de meu amigo David Andrade, que é professor de forró, ok?



Dançar na Borracharia (veja postagem do dia 1/7/2009) com a melhor discotecagem da cidade, é perfeito na sexta. Agora está repleta da meninada que ainda não entrou no ritmo dos estudos, por isso é um pouco incômodo. Mas vale a pena, pra quem está de férias, conferir a casa que já foi visitada por figuras como Martnália, Caetano Veloso, Reinaldo Gianecchini e Dinho Ouro Preto.



Obrigatório ir ao Museu de Arte Moderna (MAM), na Av. Contorno, em um sábado. Você vai entender porque na postagem do dia 11/5/2009 nesse blog. Vale a pena também ir ao Palacete das Artes, na Graça, para apreciar o Museu Rodin.

Pelourinho e Mercado Modelo, sugiro somente durante o dia. À noite é muito decadente.



Para comer uma deliciosa moqueca, sem dúvida, a grande pedida é o Ki-Mukeka, que tem filial na Pituba. Os deliciosos pratos típicos da culinária baiana são preparados com rapidez e primor. Mas enquanto isso, vale pedir as entradas de acarajé e acompanhamentos e/ou casquinha de siri - veja o que é que a Bahia tem na mesa de uma vez só e em grande estilo. Hummmm... deu água na boca. Acho que preciso ir lá urgente!


O café da manhã nordestino é, sem dúvida, no Grande Sertão. Só uma observação: nesse dia, nem pense em almoçar!


Sobre hospedagem, confesso que conheço muito pouco: teria que consultar os amigos de fora de Salvador que já se hospedaram pelas bandas de cá. Mas, em termos de localização, é melhor ficar na região do Rio Vermelho. É o olho do furacão e meio do caminho pra tudo.


E fora de Salvador? Morro de São Paulo, Boipeba ou Chapada?
Não conheço os dois primeiros na visão turística (passei algumas vezes rapidamente a trabalho), mas amigos de muito bom gosto estiveram por lá recentemente e se encantaram.


Quanto à Chapada, recomendo apenas Rio de Contas, pois não conheço os demais roteiros. Tem uma pousadinha ótima, Aconchego, (77) 3475-2714, com preços ótimos e tratamento bem acolhedor. O guia, sem dúvida, é da Ecotrilhas, Lé. A rural dele precisa de vários reparos, mas ele se vira bem também como mecânico e, principalmente, é honesto e cobra preços justos. Tenho amigos que me mandaram verdadeiros manuais por mail sobre outras localidades da Chapada. Posso repassá-los. É só me contactar que eu envio.

Ufa! Acho que é isso. Quem precisar de mais dicas ou tirar dúvidas, post seu comentário aqui, ok?




fotos: www.sxc.hu e arquivo pessoal