Cheguei em casa sedenta pelo meu teclado. Precisava escrever esse texto, custasse o que custasse. É que o cineasta espanhol Pedro Almodóvar costuma me arrebatar (eu e meio mundo! rsrsr...). Mas "A pele que habito" me pareceu uma superlativização do jeito Almodóvar de ser. Não nas já tão tradicionais "cores de Almodóvar", esteticamente falando, que quase sempre servem para "carregar" as cores das paixões, que são sua marca nas películas. Essas se mantêm idênticas e talvez até mais sóbrias.
O superlativo vem da mudança na abordagem sobre as perversões, paixões, comportamentos contraditórios e dicotômicos dos seres humanos: o mergulho é muito profundo, mas permeado por uma sutileza que tem o mesmo efeito de um soco no estômago - como descreveu um amigo, o escritor Goulart Gomes - e a discrição de um envenenamento por cicuta.
A crítica fala de um Almodóvar mais sombrio que de costume. Sem dúvida. Ele parece que está disposto a aperfeiçoar seu método sempre infalível de nos tirar da zona de conforto. Em "A pele que habito", ele vasculha (e evoca) aspectos sombrios da humanidade com maestria. Aspectos sombrios de todos nós - e que ninguém tente fugir da raia! Estamos retratados ali.
Devo pontuar que diante do que senti, discordo do meu outro amigo, o professor Alberto Freire, que aponta uma falta de identidade dessa película com a obra de Almodóvar. "Cris, gostei muito, mas não é Almodóvar. Mas precisamos debater. Então, vai ver o filme amanhã", apelou na véspera do feriado, durante o bate-papo pós-trabalho no Isopor Cultural. Não só discordo, como acho exatamente o contrário, como vocês puderam ver acima. Mas devo a Beto a dica de aproveitar as comemorações republicanas me permitindo enebriar com essa obra.
Enebriar parece a vocês um verbo superlativizante demais para classificar meu estado de espírito após um simples filme? Talvez... Mas admito não ser a pessoa certa para avaliar essa situação. Tenho que confessar que entrei na sala de projeção com olhos, ouvidos e o senso crítico muito aguçados, pois tinha travado uma ótima conversa de quase duas horas com meu amigo Aldir, companheiro de sessão. Pra lá de inteligente, culto e com um vasto conhecimento em vários segmentos, nesse aparentemente inofensivo colóquio, ele me fez realizar grandes exercícios de desconstrução de paradigmas. Será que isso explica o meu estado que perdura até agora (momento de fechamento dessa edição)?
Essa resposta, só terei na sexta-feira da próxima semana, quando será possível fazer a roda de debate no Isopor Cultural. Enquanto isso, se você leu esse texto, viu o filme e quer participar dessa discussão, pode postar aqui as suas impressões. Eu quero saber tudo que você pensa.
Vale dizer que meu amigo Aldir afirmou horas antes do filme "ser o único dentre seus amigos que não gosta de Almodóvar". Revelou a proposta de revisitar outras películas do espanhol com novo olhar, modelado por essa experiência sem igual de "A pele que habito". Saiu do cinema, quem sabe, um novo fã...
Imagens: Imdb.com
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