Crédito desta foto: eu mesma inspiradíssima...

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12 de fev. de 2011

Cinematrografando: Um carinhoso libelo feminino em tempos selvagens




Ingrid Guimarães à beira de um ataque de nervos. Em De Pernas Pro Ar (Roberto Santucci, BRA, 2010), a atriz interpreta Alice, uma jovem executiva, ambiciosa, bem casada e prestes a conquistar uma tão sonhada promoção.

De repente, seu pequeno país das maravilhas egocêntrico desmorona de forma espetacular. Num só dia, perde o emprego e o marido, cansado de ser relegado a um segundo plano - que está na verdade a uma distância de quase vinte planos atrás do profissional. Finalmente, é obrigada a reconhecer que sua vida sentimental e sexual estava uma merda.



Neste fundo de poço, conhece Marcela, exótica criatura dona de um sex shop, que vai se tornar sua única amiga e confidente e vai acompanhá-la numa divertidíssima aventura de redescobrimento e humanização.

A dupla de personagens não podia funcionar melhor tanto quanto a dupla de atrizes. Com Marcela - interpretada até comedidamente pela over congênita Maria Paula - Alice vai se libertando das amarras e preconceitos do establishment, descobre o prazer do sexo e da vida e o valor das pessoas que a cercam, ganhando força para dar a volta por cima.



Entusiasmada, assume como sócia de Marcela e aplica todo o seu empreendedorismo e conhecimento profissional para transformar o funesto negócio numa hilária e inesperada mega empresa.

Assim, de forma absolutamente despretensiosa e fluente, o filme desmistifica uma série de tabus femininos modernos, inclusive esse de que as mulheres são obrigadas a se encaixar num modelo de sucesso profissional yuppie egoísta corporativo morador da Barra. E assim, com toda essa leveza comediante, faz levitar um baita peso dos ombros femininos sem nem percebermos.



Curioso observar que os pecados de Alice até há pouco eram atribuídos aos homens: workaholics dessensibilizados, distantes da família. Há uma clara e declarada inversão de gêneros no filme. Antes, executiva era o homem e arquiteto era a esposa. Sinal dos tempos.

Faz pensar: será que ocorre uma “masculinização” da mulher quando entra no competitivo ambiente profissional corporativo? Ou será que na verdade o que ocorre é uma desumanização geral que atinge a homens e mulheres nesse ambiente inumano? Bingo!



Não deixa de ser o mesmo tema do também nacional "Se Eu Fosse Você", este bem mais sofisticado em termos de produção, direção e atuação do que o aqui modesto, simplório até, mas eficiente, De Pernas Pro Ar.

É um desses filmes que tem gostinho de DVD, para ver no sofá, com pipoca e sem medo. Temas até então “adultos” são apresentados com um naiveté tão pueril e sincero que retira qualquer demônio grudado.






Impossível não se enternecer por Ingrid Guimarães nesse papel. O filme é um trampolim sob medida para ela, engraçada, sexy e doce. Mas só vale se homens e mulheres, os dois, aprenderem a lição. Nessa época de pretensiosos Oscars e Cisnes Negros... arre! Saia leve. Termina com beijo, por que não?


* Nelson Doy Jr. é publicitário, mora no Rio de Janeiro, tem cinema nas veias e é o maior "cabeção"!

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