Quilombola é o quê? A jornalista Jaqueline Barreto resolveu responder esta instigante pergunta através do documentário Ser Quilombola. O filme expõe a realidade das comunidades de São Francisco do Paraguaçu e Porteiras, localizadas nos municípios de Cachoeira e Entre Rios, respectivamente, no Recôncavo baiano. Na terça-feira, dia 6 de junho, o vídeo foi lançado na Assembléia Legislativa da Bahia para uma platéia repleta de integrantes das localidades onde o filme foi rodado. Muitos deles exibiam o nervosismo e a ansiedade pelo instante mágico de se ver na tela pela primeira vez.
Ao longo dos 27 minutos, o filme aborda os vários aspectos que configuram a afirmação identitária dos descendentes de quilombos. A produção se originou de um trabalho de conclusão do curso em jornalismo no ano de 2010, na Faculdade Social da Bahia, e o resultado ultrapassa os limites de um trabalho acadêmico. Diante da tela se sucedem depoimentos de remanescentes das comunidades, alternados com outros, de representantes da academia, como os historiadores Ubiratan Castro e João José Reis. O diálogo fílmico entre essas duas realidades é muito bem costurado pela direção segura da jovem diretora Jaqueline, que faz sua estreia como se fosse o trabalho de gente grande por trás das câmeras.
Ela revela que sua motivação para o filme nasceu do desejo de “desmitificar os estigmas do significado de ser Quilombola, que vai além dos elementos mais visíveis como ser negro, o samba de roda, o pilão e a casa de farinha”. Estes sinais, associados à referência de comunidades paradas no tempo, contribuem para reafirmar uma visão equivocada da dinâmica social e cultural, que estão presentes na realidade cotidiana.
Com muita sutileza, o documentário discute temas que configuram a identidade Quilombola. Os depoimentos, as imagens e uma edição competente, constroem reflexões sobre os laços de parentesco, a violência real e simbólica do racismo, e a complexa relação com a terra, que ultrapassa a posse do espaço físico e traz para discussão a transmissão da territorialidade como uma história de resistência étnica e cultural, numa sociedade que faz um trabalho secular de desconstrução da autoestima dos afrodescendentes.
Ao final do filme, Jaqueline Barreto consegue captar e expor na tela a força e a resistência dos Quilombolas de São Francisco do Paraguaçu e Porteiras, que reafirmam sua condição ancestral com o brado de resistência, “sou Quilombola”. O olhar firme para a câmera é como se mirassem novos tempos, uma nova escrita da história, memória e outros modos de vida, sem perder os vínculos com o passado. Após a estreia no espaço urbano, o documentário, a partir de agora, vai percorrer as comunidades remanescentes de quilombos na Bahia, para exibir o real significado e a força do que é Ser Quilombola.
Ficha Técnica:
Roteiro: Jaqueline Barreto e Mídiã Santana
Direção e Edição: Jaqueline Barreto
Produção: Deraldo Leal
Edição de imagens: Charles Del Rei e Sandro Lucena
Cinegrafistas: Edilson Lima e Paulo César
*Artigo do jornalista e doutor em cultura e sociedade (Ufba)Alberto Freire, além de um eterno encantado com as coisas belas da vida.
Só pra dizer que seu blog é incrível e eu aproveitei pacas quando fui pra aí. Acabo de indicá-lo prum amigo e tenho certeza de que a viagem dele vai sem astral, com jazz no Solar do Unhão e a comidinha delícia do Aconchego da Dona Zuzu! :)
ResponderExcluir