Crédito desta foto: eu mesma inspiradíssima...

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1 de jul. de 2012

Para Roma com Amor é o novo destino da geografia de Woody Allen

Por Alberto Freire*


O mais recente filme de Wood Allen Para Roma com Amor amplia a geografia cultural e cinematográfica que o diretor americano vem traçando nos últimos tempos, após revelar as entranhas de Nova York por meio de suas histórias, conflitos e personagens nada lineares. No elenco estão, além do próprio diretor, Alec Baldwin, Roberto Benigni, Penélope Cruz, Judy Davis, Jesse Eisenberg, Greta Gerwig e Ellen Page.  

Este longa é dividido em quatro histórias que não se cruzam, vividas em Roma. Em um delas, um casal americano (Woody Allen e Judy Davis) vai à cidade para conhecer a família do noivo italiano de sua filha. Outra história traz Leopoldo (Roberto Benigni), um homem comum que é confundido com uma celebridade pela mídia. O terceiro episódio apresenta um arquiteto americano (Alec Baldwin) que visita Roma e suas memórias afetivas da juventude. O último traz dois jovens recém-casados que se perdem pelas ruas de Roma e uma garota de programa Ana (Penélope Cruz) se insere entre eles.

Logo na abertura Woody Allen fascina o olhar do espectador com imagens da bela cidade, com uma trilha sonora que revela a singularidade da música italiana. Este inicial passeio cinematográfico é acompanhado pela canção Nel blu dipinto di blu (Volare), de Domenico Modugno. Eis a magia do cinema, que Allen explora de forma muito apropriada, como já fizera na abertura de Meia Noite em Paris. 
 
As marcas registradas do diretor estão perfeitamente identificadas no filme. O embate entre o pensamento de esquerda com o mais tradicional capitalismo americano apresenta Allen, ator e diretor, com seu humor ferino e mordaz. Nesta história o nonsense também se faz presente com um cantor de ópera que só consegue se exibir debaixo do chuveiro, mesmo em teatros e para plateias de elite. 


A ironia com a mídia lança luzes sobre um Roberto Benigni no papel de funcionário burocrata e comum que se transforma em celebridade imediata, sem nenhum atributo que se justifique. As perguntas dos repórteres e a respostas do novo e improvável pop star radicalizam o vazio de conteúdo que sustentam os programas televisivos que gravitam em torno do mundo glamoroso das sub-celebridades midiáticas, construídas e descartadas com a mesma velocidade e intensidade.  

Nas outras histórias que se guiam pelo fio condutor do cotidiano dos relacionamentos, Woody Allen se reinventa. Como em outros filmes, ele expõe os personagens às dúvidas sobre o significado existencial, as neuroses, os conflitos interiores e os desejos explícitos ou sublimados por convenções sociais. Tudo com o humor e a leveza tão apropriados para tratar destes temas. Nestas fábulas o espectador ri muito, mas não sabe se ri dos personagens na tela, do vizinho da poltrona ao lado, ou de si mesmo.

A cidade de Roma já foi cenário de importantes filmes, em especial nas obras de Federico Fellini e os neo-realistas italianos do pós-guerra, que mostraram ao mundo que a deficiência de recursos poderia ser apropriada como importante elemento estético e narrativo. Woody Allen opta por expor uma Roma não apenas como uma paisagem de beleza e encantamentos naturais, históricos e arquitetônicos. A câmera registra tudo isso emoldurado pela cultura e o modo de vida local. No filme, o simples ato de ensinar um endereço à recém-casada perdida na cidade revela um pouco do cotidiano de uma população que se movimenta num trânsito que tem muita singularidade urbana no modo de dirigir. E Allen não deixa isso de fora do filme. 


A produção recente de Woody Allen está no processo de consolidação de uma cartografia afetiva pelas cidades da Europa. Após esquadrinhar o território de Nova York por vários anos, com a sutileza do olhar de quem a ele pertence, Allen faz agora a construção de um certo atlas cinematográfico. Depois de filmar “Match Point”, em Londres, “Vick Cristina Barcelona”, "Meia Noite em Paris” e agora “Para Roma com Amor”, ao sair do cinema uma pergunta se impõe. Qual será o próximo destino?



Texto: Alberto Freire é jornalista e doutor em cultura e sociedade (Ufba)
Imagens: IMDb.com

Um comentário:

  1. Ótimo! É um prazer ler um comentário inteligente e especializado antes de assistir o filme. Abraço forte, Cristina, saudades!

    Aldir.

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