12 de out. de 2011
Cinema quântico
Enquanto o elevador panorâmico de alta velocidade sobe, Jack se prosta ao fundo do veículo, em uma clara demonstração dos pensamentos que o atormentavam. Sua expressão facial e postura envergada denunciavam um misto de culpa, tristeza, arrependimento e dores de uma infância de abusos e opressão familiar.
Essa não é a primeira sequência, nem o clímax ou muito menos o desfecho do filme "A árvore da vida", de Terrence Malick, mas foi a que deixou uma marca indelével em minha mente. Como Melancolia, de Lars Von Trier - outro excelente drama psicológico em cartaz nos cinemas - o tempo e espaço são completamente subjetivos. E como a configuração de sentido depende desses dois eixos e se dá no olhar do observador, vejo nessas duas obras uma tendência que pode vir a se massificar mesmo: a física quântica. No popular: poderíamos dizer que tudo fica ao gosto do freguês.
A subjetividade em seu volume máximo não é uma novidade para o mundo das artes ou qualquer outra forma de expressão. Menos inovador ainda para os estudiosos da psi (freudianos, lacanianos e, pra mim, principalmente, junguianos). Essas duas obras, entretanto mexem tanto conosco, sentados confortavelmente nas cadeiras, que houve quem levantasse no meio do filme, pois não teve paciência - costumamos não ter paciência de olhar pra dentro de nós mesmos.
Malick "abusa" (no bom, ou melhor, ótimo sentido) do ritmo natural e "grita" bem alto pra o homem moderno, antenado, conectado, hiper-sociabilizado, dinâmico, veloz: A VIDA TEM SEU PRÓPRIO RITMO. NÃO TENTE ATROPELÁ-LA OU ELA LHE ATROPELA! Digo que "grita" porque o narrador silencioso da trama é a própria natureza com seu ritmo leeeeennnnto, majestoso e inquestionável.
Em Melancolia, Von Trier também "berra" para ver se acorda esse homem moderno tão ocupado com sua sociabilidade. A pergunta é: afinal, quem é normal? Com uma alta carga surrealista e simbólica, tal como Malick, ele propõe com maestria que nos libertemos das formas e padrões e que enxerguemos as pessoas em sua essência. Uma verdadeira declaração de amor universal. Uma verdadeira declaração de amor ao natural. Afinal, o homem é também parte da natureza.
Talvez você esteja se perguntando: será que essas foram realmente as ideias dos cineastas? Será que eles compartilham das atuais linhas de pensamento sobre quântica que elevam a consciência do observador ao status de criador definitivo? Não faço a menor ideia. E não importa. Esse é o meu olhar: único, quântico, inquietante, transformador, transmutador.
Escolhi (e guardei dentro de mim como um tesouso) mais uma sequência de "A Árvore da vida": Jack, personagem visceralmente encarnado por Sean Penn, desce no elevador e numa praia (imaginária ou real, não importa) revê e/ ou reconcilia-se com cada membro da sua família entre outras pessoas que passaram por sua vida. Pessoas que foram reais, mas que, na psique, tornam-se personagens de um enredo que nós próprios criamos, cada um a seu tempo e espaço, como lhe convier e puder.
Esse foi o salto quântico de Jack: decidiu reacriar o filme da sua vida com um novo enredo e seguir em frente. Afinal a vida precisa seguir em frente. E você, já escolheu a SUA sequência de filme preferida com o seu "olhar" quântico?
Imagens: www.imdb.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Gostei da postagem Cris, principalmente por você não especular verdades, apenas citar um entendimento que tanto quanto o filme, é pessoal e ao mesmo tempo coletivo, no sentido de que cabe a minha interpretação, cabe a sua e a de qualquer um, sem que destoe do sentido do autor.
ResponderExcluirAbraço,
João Paulo