"Você já foi à Bahia, nega? Não!? Então vá!". Esse questionamento pra lá de imperativo do queridíssimo e saudoso Caymmi está carregado de sabedoria. Sim, a Bahia é linda e você não pode deixar de ver isso com seus próprios olhos. Mas Salvador... Bem, como toda grande cidade tem seus calcanhares de Aquiles. Mas, não, não tem só axé, nem aqueles infames pagodes. Sim, Salvador tem um Lado B e eu vivo desse lado!
Andei, andei, andei e nada de encontrar um lugar estilo Lado B pra dançar forró. Até que o inusitado cruzou o meu caminho. De um dos meus contatos da rede - uma simpático rapaz que dá aulas de forró, entre outros ritmos - veio a indicação: "Sertão Bom é o lugar pra se dançar um forró autêntico em Salvador". E veio acompanhada de contra-indicações: todos os lugares que eu tinha ido até então estavam limados por este "especialista".
E não deu outra. Em um sábado pra lá de chuvoso, convenci minha amiga aniversariante do dia, Márcia, que transferisse sua comemoração para lá. Mas as chuvas não ajudaram! A ela, porque a mim só beneficiaram: moro praticamente ao lado do restaurante típico, localizado na Pituba. O fato de ter chovido bastante deve ter esfriado os ânimos dos frequentadores, pois, nesse dia, não estava lotado - mas David, o professor de forró, garante que a gerência não permite superlotação, o que já conta 1.000 pontos no meu ranking de lugares legais pra frequentar.
Mas a chuva não esfriou os ânimos da casa noturna. Comida gostosa, uma cachaçaria típica (para quem gosta da branquinha, é excelente pedida), decoração lindíssima (parece que é interior mesmo) e, o principal, uma banda de forró autêntico (Clã Brasil), formada por um senhor pra lá de simpático e sua famiília - a tocar clássicos de Gonzagão e cia. Fui ao delírio! A segunda banda (Sobe Poeira) é mais moderna. Embora seu repertório seja mais recente, procura manter a linha da anterior - autenticidade de ritmos e estilos nas composições que executa.
Os preços são bons e o couvert, ótimo: R$ 7 reais. Ah, a casa tem horário para começar e terminar o arrasta-pé, das 21h às 2 h. Portanto não se atrase. Ponha suas botas pra enfrentar as quase fatais chuvas da noite de Salvador nessa época do ano e aproveite o forró de cidade grande com carinha de interior.
No olho do furacão da cidade, onde tudo acontece, o Rio Vermelho, está um dos espaços mais encantadores: o Teatro do Sesi. Lá já passei por momentos muito especiais. Entre outros, um show da minha linda e talentosa amiga Claudia Dulth, um espetáculo teatral simplesmente mágico cujos personagens eram encenados com as mãos, um show do meu amigo Eduardo Brito com Eliane Veiga e Roberval Santos em homenagem aos magistrais Cartola e Noel. E nesse último, levei a minha mãe - todos hão de convir que um espaço para o qual levamos a nossa mãe tem que ser um lugar sagrado.
Sagrado? Muito mais que sagrado: debruçado sobre o mar, esse encantador (olha a palavra de novo...) espaço, além da música de altíssima qualidade do bar da varanda, o Jequitibar, tem a inebriante canção do mar. Já viu coisa mais perfeita? Um teatro debruçado sobre o mar. E quando tem lua cheia... hummmmm... Até hoje, nunca vi essa maravilhosa dobradinha por onde andei. Na última sexta, 15 de maio, o meu encantamento extrapolou com o show "Da areia", da cantora e compositora Juliana Ribeiro (www.myspace.com/julianaribeirocanta).
Enquanto a platéia se acomodava, o som ambiente de mar quebrando na beira da praia permanecia no ar, criando o clima para o que ainda estava por vir... Mar ali, mar aqui, mar acolá. Simplesmente irresistível! Um dos momentos mais arrebatadores - juro, deu vontade de pular da cadeira pra dançar - foi a participação do ator, dançarino, produtor, cabeleleiro... ufa! Déo Carvalho. Ele dançou e cantou um delicioso maxixe com a Juliana.
Essa encantadora (!!!) artista tem tudo a ver com esse encantador espaço pela consistência de seu trabalho que traz uma extensa e rica pesquisa (resultado do mestrado que está concluindo na Escola de Música), pelo compartilhamento com o público de toda essa cultura e, acima de tudo, pela alma que coloca em tudo que faz. Sexta que vem é o último dia da temporada. Vê se não vão perder, hein?!
Nesse mini clip abaixo (passe uma vez para carregar e acione novamente o play ao final), você pode conferir uma pedacinho desse encanto - mas nada se compara ao que se sente presencialmente.
Observação: o dicionário Michaelis explica o significado dessa que eu considero uma das mais semanticamente ricas e esteticamente belas palavras da nossa língua: "adj (encantar+dor2) Que encanta; belíssimo, esplêndido. sm 1 Aquele que faz encantamentos; mágico. 2 Aquele ou aquilo que encanta ou seduz."
O MAM é mais que meu lugar preferido na cidade. É o MEU lugar! É simples, sem discussão e pronto.
Sábado à tarde é uma delícia olhar o sol bater no cais, depois de visitar o belíssimo Parque das Esculturas e as exposições do momento.
Sábado à tarde é uma delícia pagar apenas R$ 4 para ver um filme de alto nível numa salinha acolhedora.
Sábado à tarde é uma enorme delícia comer aqueles lanches antes de ir ver o filme - faz o seguinte: paga o cine e o lanche juntos, pois é no mesmo caixa. Acho que R$ 10 reais dá.
Sábado à tarde é uma delícia aguardar o crepúsculo e sentir a brisa acariciar meu rosto enquanto Ivan Huol e cia arrasam com a Jam no MAM. Esse projeto que reúne alguns dos melhores músicos da cidade em uma jam sessions e que existe há cerca de (pasmem!)10 anos, mas que nunca teve muita visibilidade nem grana - mas, pra compensar, tem a garra e fibra de Ivan Huol que nunca desistiu de seu sonho.
Isso é que é vida, pois não é pra qualquer um poder ser feliz com tudo isso e ainda com trilha sonora - e olha que é uma diferente pra cada sábado.